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Foto do escritorMarta Faustino

A alegria da vida familiar

O sol desperta e os seus raios vão entrando pela janela da cozinha, lá dentro a mamã começa o dia a preparar o pequeno-almoço de todos, a fazer os lanches dos pequenos e a organizar a rotina do dia. Ela gosta de fazer estas tarefas, enquanto a casa ainda dorme, pois assim que acordarem o silêncio que a ajuda a organizar vai embora. Estes minutinhos de manhã são o que a ajuda a manter a sua sanidade mental, mas nem sempre os consegue ter e isso deixa-a mais irritada e, pronto, acabamos por nos zangar, ficamos tristes, porque achamos que ela não nos está a ouvir, nem a entender e insistimos um pouco mais com ela e aí é que a situação se complica e ela explode para todo o lado!



Hoje acordei e fui ter com ela para lhe dar um abraço e um beijinho de bom dia, mas lá estava ela atrapalhada com o horário e nervosa com a reunião que ia ter a manhã, toda, no trabalho. Chega o pai e bebe o café nas suas calmas e, com voz muito tranquila, diz à mãe para não se preocupar e aprender a relaxar. Ui! Isso irrita, ainda mais, a mãe! Pronto, agora sou eu que sinto no meu peito um aperto e começo a ter vontade de chorar. Sempre que eles ficam assim, eu sinto algo estranho dentro de mim e parece que, também, eu fico sem conseguir pensar direito, há como que uma nuvem escura que se aproxima de mim e deixo de conseguir pensar e ver claramente. E já estava para começar a chorar quando percebi uma coisa muito estranha: afinal a minha mãe não estava a gritar com o pai! Esfreguei os olhos e afastei a nuvem escura dos meus olhos, para ver melhor. O quê?! A minha mãe está com um sorrisinho malandro no canto da boca e virou as costas ao pai! Agora é que eu não estou a entender nada!! Mas ela normalmente fica tão tensa e enervada com isto e começa a gritar com todos! Agora agarrou nos nossos lanches e distribuiu pelas mochilas.


- Ana! Anda querida vem beber o leite. – diz a mãe, enquanto me abraça e dá um beijinho de bom dia. Eu nem acredito e obedeço quase cegamente, enquanto olho bem a toda a volta e tento perceber o que se está a passar. Ouço a minha mãe a dizer que se sente diferente desde o fim de semana que nós ficamos com os avós e eles foram passear. Parece que esse fim de semana foi mesmo importante para eles. A mãe diz que gostou da conversa que tiveram e que, há muito tempo, precisavam de ter aquela conversa. Mas que conversa?!


O tempo passa e chega a hora de ir para a escola. Esta manhã foi muito diferente e, pela primeira vez, sinto como se estivesse leve, como se um sol brilhasse dentro de mim e nem consigo conter um grande sorriso, parece que a mochila está mais leve! Ver a minha mãe assim, alegre e tranquila, deixa-me a mim também assim, até parece que ganhei uma força interior, a mochila não parece pesada, os meus pés já não arrastam, até me custa contrariar a mãe, ela está tão feliz!


Uau! Hoje a mãe veio deixar-me à porta da escola e deu-me um beijinho! Até as minhas colegas disseram “oh, a tua mãe é tão simpática! porque é que ela hoje veio cá trazer-te? Fazes anos?”, eu respondi que não, “é porque ela hoje está diferente, está feliz!”. Ai! Que sentimento tão bom que tenho dentro de mim, as minhas colegas conheceram a minha mãe e gostaram dela! E este beijinho dela foi tão agradável, vai ficar comigo o dia todo.


O dia passou rápido, a professora está contente comigo, hoje fui uma menina obediente e já ali vem o pai buscar-me. Que bem-disposto! Ouço-o ao telefone a combinar o jantar com a mãe, então ela vem jantar connosco?

Chegamos a casa e vamos fazer os trabalhos, tomar banho e chega a mãe.


- Meninos! – chama a mãe, para irmos jantar. Estamos todos à mesa a falar, a gritar, todos queremos contar o dia, a mãe e o pai, também, tentam falar do dia deles. Fica uma confusão, mas lá nos vamos ajeitando. A mãe, por vezes, dá um grito para sermos um de cada vez, o pai chama a atenção para nos entendermos e vejo a mãe a respirar fundo, algumas vezes, mas consegue sempre colocar um sorriso. Toca o telemóvel da mãe. Todos nos calamos. Será do trabalho? Como sempre? A nuvem negra volta, o meu coração aperta, lá vai a mãe embora, novamente, ou vai fechar-se no escritório a terminar um trabalho … que pena estávamos tão felizes! Ela diz ao pai que é do trabalho, o pai olha com pena para ela e ela, respira bem fundo e diz-lhe “agora estou com a minha família, amanhã é outro dia!” e o pai dá-lhe um grande abraço!


A minha nuvem desaparece e penso que, desta vez, não vai voltar! Afinal a minha mãe está diferente, parece que agora pensa em nós, quer estar connosco e já não prefere o trabalho. Bem, se calhar, devemos ser mais importantes que o trabalho e isso deixa o meu coração muito feliz. Não sei que conversa foi essa no fim de semana com o pai, só sei que podem ter mais conversas destas porque estão os dois muito mais calmos e a mãe agora tem-nos como uma prioridade!


Marta Faustino

Psicóloga Clínica

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